segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A Divisão entre os Eleitores no Brasil

A presidente foi reeleita com vantagem maior nos estados mais pobres do Brasil e desvantagem nos mais riscos estados. Concluiu-se daí que ela era a candidata dos pobres e seu oponente, o dos ricos. Nada mais equivocado.
Os ricos são, naturalmente, mais conservadores que os pobres. E o único tema político diferenciando os candidatos no segundo turno desta eleição era a continuação no poder de uma equipe de governo pelo quarto mandato ou a sua substituição por outra. A oposição prometia manter e aperfeiçoar todos os programas sociais e econômicos do atual governo.
O PT e o PSDB são, historicamente, partidos de esquerda, como outros 30 no Brasil. Têm ambos dominante participação da elite universitária paulista. Há 12 anos, o PT substituiu o PSDB na presidência da república e, aliando-se no Congresso ao PMDB, deu continuidade a sua gestão e satisfez, tanto ou mais que seu predecessor, os interesses legítimos ou escusos do empresariado. Hoje não se pode encontrar qualquer oposição ideológica entre os dois.
Para entender a divisão é preciso ver que os partidos contam muito pouco nas nossas eleições. O PT é, de fato, o único partido cuja sigla tem adeptos, mas essa preferência afeta pouco mais de 10% do eleitorado.  Isto basta para decidir uma eleição presidencial, mas, não explica a divisão geográfica.
No Brasil, a elite conservadora tem amplo controle do processo eleitoral. Não se vota em partidos ou plataformas, a escolha é apenas entre pessoas. O sociólogo Fernando Henrique Cardoso, defendendo seu candidato em certo momento, explicou a clivagem como uma diferença entre informados e desinformados. Acredito, parcialmente, nessa explicação.
Na verdade, a origem da divisão está em que, nos estados ricos, é maior a proporção dos que têm tempo para assistir os debates na TV enquanto, por outro lado, nos estados pobres, é maior a proporção daqueles que, vítimas do analfabetismo funcional, só conseguem dar importância à presença física, o rosto, o gestual, a voz dos candidatos.
 O marketing da candidata à reeleição foi notável na produção de uma imagem visual de energia e sensibilidade que, junto com o fato de tal imagem ser vendida nacionalmente há quatro anos, foi, em alguns momentos, suficiente para lhe dar grande vantagem. A meu ver, o que inverteu essa situação nos estados de economia mais avançada foi sua dificuldade de concatenar frases e perceber nuances conceituais, que só aparece quando é forçada a improvisar respostas. Nos debates, ela repetiu as respostas que ensaiou com sua equipe, mas, se perdeu nas ligações e nos detalhes. Na campanha anterior, essa dificuldade foi atribuída à inexperiência. Desta vez deixou claro para quem prestou alguma atenção que, se a escolha era de um gerente de alto nível, ela era a pior qualificada.
 O engraçado é que, se ela e seu antecessor tivessem retribuído aos estados pobres o apoio nas eleições anteriores com apoio para o desenvolvimento que só lhes pode dar a elevação da qualidade do seu sistema educacional, não teria tido uma votação tão alta nesses estados e não teria sido reeleita.

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