terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Democracia X CBF

Passaram do limite! Não é só do Vasco da Gama, patrimônio cultural do povo brasileiro, que estão escarnecendo. É na democracia, há muito vilipendiada pela FIFA e a CBF, que desferem mais este golpe.
Depois de duas negativas sumárias, o Presidente do STJD da CBF resolve abrir mão da sua prerrogativa e submeter ao Plenário o pedido do Vasco. Quando? Ao final de uma sessão em que, depois de muitas horas de pitorescos pronunciamentos, tinham concluído a absurda entrega ao Fluminense da vaga ganha no campo antes da última rodada do campeonato pela Portuguesa. Então, em poucos minutos, por unanimidade, deliberaram que contra o Vasco deveria prevalecer o resultado do campo. Resultado de um jogo em que tirar o time de campo era expor jogadores, dirigentes e torcedores do Vasco à morte.
O que o Vasco pedia? Que fosse anulado um jogo paralisado por tempo superior ao permitido na regra, um jogo interrompido pela pancadaria, ao qual a Torcida Organizada do clube mandante avisou que mulheres e crianças não deveriam ir, para o qual o clube mandante limitou ao máximo a venda de ingressos para torcedores do Vasco - mais popular no Estado - e no qual assumiu as funções de policiamento em lugar da segurança pública, um jogo no qual a delegação do Vasco assistia o jogo em camarotes cercados pela torcida do oponente.
Este mesmo clube mandante, o Atlético-PR, orgulha-se de ter sido o primeiro a conseguir, em 2012, do mesmo Tribunal, que um atleta punido por uso de droga proibida tivesse a pena reduzida à metade. Depois dele, outro atleta obteve o mesmo benefício. Que clube defende? O Fluminense.
Mas não é o favorecimento a este ou àquele que está em causa. A Imprensa já tinha antecipado o veredicto do rebaixamento do Vasco. Mais do que fazer justiça ao Vasco neste caso, o que é preciso é romper a ostensiva propaganda que o Futebol faz desavergonhadamente do mais hediondo dos regimes civis, a demagogia.
A autoridade absoluta de árbitros e tribunais não resulta apenas no favorecimento aqui e acolá de um clube e outro. A humilhação do Vasco da Gama e da Portuguesa de Desportos é repetição de um sacrifício permanente da dignidade do povo brasileiro no altar da demagogia.
Os torcedores do Vasco devem provocar a manifestação do Ministério Público da União nesta oportunidade não somente para reintegrar o clube afastado da série A por essa injustiça, mas, principalmente, por medidas urgentes em defesa da democracia no futebol.
Pelo menos duas alterações devem ser obtidas antes que os gastos bilionários com a Copa do Mundo no Brasil sirvam apenas para nos encher de vergonha. A primeira, a revogação da suposta incomunicabilidade do árbitro, que a FIFA diz desejar sujeito apenas ao clamor da torcida. O juiz tem de ter o direito de rever as gravações dos lances duvidosos - gravações hoje rapidamente disponíveis - antes de decidir. Depois do flagrante do Edilson, sustentar a infalibilidade de sua excelência é apologia ao autoritarismo e ao engodo dos cidadãos.
A segunda é a inclusão nos tribunais e demais comissões da CBF de uma maioria de atletas e ex-atletas em substituição aos notáveis que hoje estão lá para sacrificar a Justiça à sanha dos clubes mais populares.   
Os torcedores do Vasco já mostraram que são capazes de acompanhar seu time na série B ou onde quer que seja atirado. Com os seus dirigentes usados como símbolo da incompetência e corrupção que infestam o futebol, com sua torcida punida como a responsável por toda violência em torno do campo, o time do Vasco continua praticando em campo um futebol que os enche de orgulho. O que os leva hoje à luta não é um clube, é o futebol e o direito do povo brasileiro a que em seu esporte preferido prevaleçam a Justiça e a Lealdade. 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Como nasce o Filho de Deus?



O ser humano é limitado... Não estou falando do velho que esquece o início da frase antes de pronunciar o fim, nem da criança que nem desconfia o quanto tem a aprender. Mesmo, no vigor da maturidade, todos são, não só ameaçados a cada dia por novas doenças e catástrofes, mas, derrubados pelo cansaço ao fim de umas poucas horas de trabalho, ou de lazer.
Há no esforço coletivo uma forma de enfrentar essa fraqueza. Quando um envelhece, nasce outro; quando um adormece, outro acorda; quando um cai, outro levanta... Mas, a sociedade humana também é terrivelmente limitada. O que se observa, ao longo dos séculos, é que os melhores homens nas nossas melhores civilizações são autoridades mesquinhas, legisladores corruptos, juízes preguiçosos, jornalistas imbecis...
 A resposta cristã para essa situação é a fé em que somos criaturas de um Deus Pai Amoroso que cuida de nós, que nos fez assim para nos poder dar mais amor. O mundo é mau, mas Deus é bom...
A fé é capaz de vencer o medo que tem fundamento na experiência diária? Como manter a fé em um sentido para a vida quando, ao fim da luta para assegurar pão de cada dia, o anoitecer nos lembra da ameaça da morte, do espectro da pele e ossos virando pó.
Para sustentar a nossa fraca fé, Deus Pai nos deu o Seu Filho, que, em testemunho da boa nova de que o Pai não nos abandona, nos deu o exemplo não só da sua vida, mas, também da sua morte. O Filho de Deus enfrentou a morte por amor de nós e nos ofereceu a esperança da ressurreição para nova vida em seu Espírito. Depois de chamar a nossa atenção para a boa nova do Deus Pai, Jesus Cristo inebria os nossos sentidos com a esperança da vida eterna.
Mas, assim como a fé não apaga as nossas dúvidas, também a esperança não afasta a angústia, se não olharmos com um novo olhar a sociedade dos homens. É nela que o grande combate se trava.
Não basta saber, não basta sentir, é preciso, também, querer. Quando o que nos irrita não são as dificuldades naturais da vida e as nossas limitações para enfrentá-las, mas os que deviam estar lutando ao nosso lado e preferem nos humilhar e explorar, é que temos a oportunidade de alcançar o Espírito Santo. Preso e condenado pelos escribas e fariseus, abandonado na Cruz, Jesus se empenha em nos lembrar que, como nós, os que o atacam e o desprezam não sabem o que fazem.
Em vez de enfrentar o mal com o mal, Jesus salva para o amor os que dEle se aproximam. Porque o começo da vitória sobre o mundo é a vitória sobre o ódio. Depois de ouvi-lO e adorá-lO, aquele que O encontra, no momento em que quer ser como Ele é, começa a enxergar de uma forma nova a rolinha e o urubu, os outros e a si mesmo.
A vontade de ajudar ajuda a crer e a esperar. Só esse querer o bem revela o sentido e a beleza de tudo. É a caridade que nos faz Filhos de Deus.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Vândalos chapa-branca



Minha médica não demonstrou a gratidão devida quando foi parada pela Operação Lei Seca à meia-noite. Voltava da academia de ginástica e pouco lhe importava o que a sociedade está lucrando com a nova prática de deter os bêbados. Só queria ir para casa dormir.
Vendo o seu mau humor, os policiais, imagina-se a que custo desviados da função de enfrentar facínoras armados para a de assustar moças suspeitas de embriaguez, cercaram-na, filmaram-na e ameaçaram-na, até que um deles lhe comunicou que o lacre da placa do seu carro estava quebrado e, como é proibido trafegar com lacre quebrado, o veículo seria rebocado para o depósito público.
De nada acuso os agentes da lei. Cortar o lacre dos carros é uma pratica de vandalismo que se está espalhando pelo país. Quem sobe no ringue deve estar preparado para sofrer algum golpe baixo. Quero, apenas, chamar a atenção para as contradições do sistema.
Algum representante da maioria que acha que essa pimenta não atinge os seus olhos porque não transita de carro à noite pelas ruas da cidade vai reclamar quando chegar no posto de saúde e for informado de que a doutora não foi trabalhar porque ficou sem o carro. Melhor para ele do que para o que terá sido assaltado porque a polícia, ocupada demais nas blitzen contra os motoristas, deixou livres os ladrões.
Da minha parte, evito sair à rua. Só que, agora, uma nova lei me obriga a receber dentro de casa inspetores da construção. Vou abrir a porta ao técnico em construção com o mesmo respeito que dedico aos guardas de trânsito. Mas, penso que coletivamente poderíamos nos organizar para enfrentar o vandalismo oficial.
Para não extrapolar os limites da correção política, proponho apenas uma campanha educativa. Formaríamos equipes de educadores que enviaríamos a oferecer diariamente aos agentes da Lei Seca o louvor que eles merecem. Para lhes mostrar quanto apreciamos que eduquem os jovens que não aprenderam em casa e na escola o risco de dirigir embriagado, lhes ofereceríamos cursos gratuitos permanentes de abordagem aos que são vítimas de desvios de personalidade mais graves. A campanha seria estendida depois a sub-prefeitos cata-lixo, candidatos a deputado sem princípios e assim por diante.
Há um problema. De onde viriam os recursos para isso? Com a descriminalização da produção e tráfico de drogas e a taxação dessas atividades, o governo arrecadaria recursos que poderia destinar à educação dos policiais. Mas, enquanto isso não acontece, há uma solução coerente com a lógica dominante: deslocar mais dos parcos recursos destinados à educação pública ao financiamento da elevação da polícia.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Há conservadores e há liberais


Os conservadores são os que veem o mundo parado, as pessoas divididas em dois grupos estanques: o das que têm qualidades e direitos, as quais eles veneram e protegem, e o das que têm defeitos e deveres, que desprezam e exploram. Os liberais veem um mundo em construção, não avaliam as pessoas, mas, sim, o que elas tentam fazer e as amam como companheiras de campanha.
 Os conservadores confiam na memória; os liberais, no raciocínio. Os conservadores gostam de repetir o que veem repetido; os liberais se deliciam em explorar o novo. Os conservadores querem preservar os sítios históricos; os liberais lutam para libertar as forças da Natureza. Os conservadores cercam-se de bens materiais; para os liberais a riqueza que conta é espiritual.
 Os conservadores querem estar sempre certos; os liberais sentem que estão sempre errados. Os conservadores votam no partido, enquanto os liberais votam na proposta. Os conservadores querem um governo forte, para manter a ordem; os liberais querem um governo melhor, mas detestam a delegação de poderes. Os conservadores são a favor da violência institucional e contra a violência dos quebra-quebra; os liberais são contra as duas.
Os conservadores desconhecem o envelhecimento; os liberais ouvem a opinião dos velhos como contribuição nova. Os conservadores paparicam os filhos; os liberais crescem junto com eles. Os conservadores se julgam eternos como são, santos acima do bem e do mal, e sua religião serve apenas para diferenciá-los. Os liberais buscam a vida eterna e só aceitam um Deus amoroso que abre um caminho ao alcance de todos.
Os liberais sonham atrair os conservadores. Os conservadores prefeririam que os liberais não existissem.