sábado, 15 de junho de 2013

Comissões da Verdade

Os porões da ditadura não foram diferentes dos da polícia de antes e depois. As “comissões da verdade” vêm conseguindo identificar locais fora das dependências policiais onde suspeitos eram mantidos presos e se realizava tortura. Mas, a todo instante, denúncias da mesma natureza são feitas contra a polícia do século XXI. E, assim como o DOPS antes da tomada do poder pelos militares já se notabilizava pelo tratamento cruel dos seus detidos, o tratamento hoje aplicado aos presos comuns não é diferente.
É impossível garantir que os inimigos políticos dos governantes não serão nunca mais tratados como inimigos públicos. E enquanto houver uma estrutura organizada para a repressão, haverá espaço para estendê-la aos inimigos do regime.
Agora parecemos estar entrando em um momento idêntico, sob esse aspecto, ao que vivemos no Governo João Goulart. Grupos de políticos se organizam para mobilizar estudantes. Criam manifestações com o objetivo de desafiar a polícia. Jornalistas que compõem esses grupos aproveitam o interesse da Imprensa em fatos inusitados para ampliar a importância dos confrontos e o descrédito da população nos governantes e na polícia. Como os motivos das manifestações não são significativos para a população, o objetivo das ações é provocar a reação da polícia para que e os excessos da repressão passem a ser o tema a ser explorado. Essa é a sua estratégia para conquistar o poder.
Os grupos que se impõem a seus países por esses métodos mostram-se mais corruptos e sanguinários que quaisquer outros. Podem, também, como ocorreu no Brasil em 1964, propiciar o acesso de grupos oponentes ao poder. Em qualquer caso, nos regimes violentos assim gerados, a sanha dos poderosos se voltará contra os mais capazes e mais honestos. Lamentamos tantas vidas perdidas no período em que a repressão se estendeu aos adversários políticos, porque então os assassinatos praticados pelos agentes da repressão atingiram pessoas mais próximas de nós que o habitual.
É enfrentando os torturadores do presente, não os do passado, que nos elevaremos à altura dos nossos mártires. Continuar a luta pelos direitos de todos deve ser a nossa homenagem ao seu sacrifício.
Toda lei que abra espaço ao uso de mais violência precisa ser combatida. Quando vejo a "Lei Seca" dar oportunidade a que, no meio da rua, debaixo de balões e holofotes, policiais tomem o instrumento de trabalho de um cidadão que não fez sua vistoria porque não teve dinheiro para pagar as multas, tenho certeza de que a tortura não acabou. Esses agentes elegantes serão os torturadores de políticos da oposição no próximo endurecimento do regime.
Esse endurecimento se ensaia cada vez que se instala um novo prefeito “linha-dura”, uma nova “operação lei e ordem”, uma nova lei tipificando novos crimes e criando novos Departamentos da Ordem Política e Social. Suas raízes estão na falta de esclarecimento de uma única verdade: de que como Deus nos ama podemos amar-nos uns aos outros.

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