quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Vândalos chapa-branca



Minha médica não demonstrou a gratidão devida quando foi parada pela Operação Lei Seca à meia-noite. Voltava da academia de ginástica e pouco lhe importava o que a sociedade está lucrando com a nova prática de deter os bêbados. Só queria ir para casa dormir.
Vendo o seu mau humor, os policiais, imagina-se a que custo desviados da função de enfrentar facínoras armados para a de assustar moças suspeitas de embriaguez, cercaram-na, filmaram-na e ameaçaram-na, até que um deles lhe comunicou que o lacre da placa do seu carro estava quebrado e, como é proibido trafegar com lacre quebrado, o veículo seria rebocado para o depósito público.
De nada acuso os agentes da lei. Cortar o lacre dos carros é uma pratica de vandalismo que se está espalhando pelo país. Quem sobe no ringue deve estar preparado para sofrer algum golpe baixo. Quero, apenas, chamar a atenção para as contradições do sistema.
Algum representante da maioria que acha que essa pimenta não atinge os seus olhos porque não transita de carro à noite pelas ruas da cidade vai reclamar quando chegar no posto de saúde e for informado de que a doutora não foi trabalhar porque ficou sem o carro. Melhor para ele do que para o que terá sido assaltado porque a polícia, ocupada demais nas blitzen contra os motoristas, deixou livres os ladrões.
Da minha parte, evito sair à rua. Só que, agora, uma nova lei me obriga a receber dentro de casa inspetores da construção. Vou abrir a porta ao técnico em construção com o mesmo respeito que dedico aos guardas de trânsito. Mas, penso que coletivamente poderíamos nos organizar para enfrentar o vandalismo oficial.
Para não extrapolar os limites da correção política, proponho apenas uma campanha educativa. Formaríamos equipes de educadores que enviaríamos a oferecer diariamente aos agentes da Lei Seca o louvor que eles merecem. Para lhes mostrar quanto apreciamos que eduquem os jovens que não aprenderam em casa e na escola o risco de dirigir embriagado, lhes ofereceríamos cursos gratuitos permanentes de abordagem aos que são vítimas de desvios de personalidade mais graves. A campanha seria estendida depois a sub-prefeitos cata-lixo, candidatos a deputado sem princípios e assim por diante.
Há um problema. De onde viriam os recursos para isso? Com a descriminalização da produção e tráfico de drogas e a taxação dessas atividades, o governo arrecadaria recursos que poderia destinar à educação dos policiais. Mas, enquanto isso não acontece, há uma solução coerente com a lógica dominante: deslocar mais dos parcos recursos destinados à educação pública ao financiamento da elevação da polícia.

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