segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Mais e Melhores Médicos!



A resistência dos Conselhos de Medicina ao emprego de médicos formados no exterior tem pelo menos duas faces a serem examinadas com cuidado. Primeiro, há a exigência de que esses médicos sejam submetidos ao Revalida, o exame nacional recentemente criado para avaliar a qualificação de médicos formados em universidades estrangeiras que desejem exercer a profissão no Brasil. Mas, um segundo aspecto está se tornando mais importante à medida que são reveladas as urgentes carências das localidades a que esses médicos estão sendo destinados.
O Revalida é um grande progresso e precisa ser prestigiado. É um exame nacional, com componentes teóricos e práticos, que substitui um sistema de revalidação de diplomas estrangeiros complicado e burocrático. Impõe-se prestigiar o Revalida.
Os criadores, no Governo, do Programa Mais Médicos argumentam, para adiar a submissão ao Revalida, que há necessidade de atender emergencialmente populações em situação de abandono. Os médicos sem a aprovação no Revalida estão sendo contratados por um prazo limitado para atender solicitações de municípios com vagas em serviços de saúde não preenchidas pelos médicos brasileiros. É incontestável que as circunstâncias exigem a redução temporária das exigências de qualificação dos médicos.
A intransigência dos conselhos de classe dos médicos revela uma terrível falha na formação dos profissionais que credenciam. Argumentar-se-á que entidades de classe e corporações de ofício têm a obrigação de defender o mercado de trabalho dos profissionais que abrigam. Mas, têm também outras obrigações. As pessoas que as dirigem, ao colocar o interesse econômico da classe acima do bem maior do atendimento aos necessitados, revelam não apenas incompetência para geri-las. Revelam que falta humanidade a médicos escolhidos por médicos para representá-los.
A exigência até hoje de credenciamento para o exercício da profissão por corporações de ofícios, seja de médicos, seja de economistas, jornalistas ou pessoas com qualquer outra profissão é um absurdo. É verdade que a qualidade do ensino de muitas instituições ainda não merece confiança, diplomas universitários podem ser fraudados e, com o tempo, a formação de alguns profissionais caduca. Para lidar com isso, exija-se, periodicamente, a validação dos diplomas. Mas, essa validação, por um concurso nacional como o Revalida, é muito diferente da emissão de credenciais por uma Ordem de Advogados ou um Conselho de Engenheiros.
Depois da criação da Internet, nada impede que os governos administrem sítios com informação objetiva sobre a qualidade de qualquer profissional de qualquer área. Com essa informação disponível, é possível que, por certo tempo e em certas áreas ainda haja quem se disponha a exercer profissão para a qual não está qualificado. Deverá pagar por esse crime pena à altura do risco a que submeta direta ou indiretamente seus clientes. Mas, não há razão para crer que seja menor o número dos que praticam esse crime hoje, sob o atual sistema de credenciamento medieval. Ao contrário, a hipocrisia que preside o credenciamento pelos pares entorpece as consciências e estimula a fraude.

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