quarta-feira, 3 de maio de 2017

Mais Reforma Política

Winston Churchill disse uma vez: “The best argument against democracy is a five-minute conversation with the average voter”. Isto não o impediu de dizer, noutro momento: “Democracy is the worst form of government, except for all the others”.
A coisa é simples. Se temos necessidade de governantes, temos necessidade de limitar seu poder. A escolha do regime democrático é uma escolha de compromisso. Abrimos mão de escolher os melhores governantes, em troca do poder de, de tempos em tempos, substituir os que são escolhidos. A grande virtude da democracia é a alternância dos partidos no poder. Não se espere do eleitorado a capacidade de escolher o que é melhor para o povo. O importante é que a existência de eleições constitua uma ameaça séria de deposição para os governantes de cada dia.
Com o desenvolvimento do marketing político e do caixa 2 eleitoral essa virtude capital da democracia se perdeu, no Brasil. As empreiteiras, os barões da propaganda e seus parceiros estão no poder há um século.
Uma onda internacional levou os últimos governos a aprovar uma legislação anticorrupção que, aplicada com rigor pelo Poder Judiciário, está levando alguns poderosos à cadeia. A competência da Polícia e do Ministério Público é limitada e só o tempo dirá até que ponto eles serão capazes de aplicar eficientemente instrumentos como o da delação premiada. De qualquer modo, nossos políticos estão se vendo diante do risco de punições severas, se a democracia começar a funcionar. Perder a próxima eleição pode passar a envolver o risco de ter os seus crimes de corrupção apurados e punidos sob um governo hostil. Contra essa ameaça, eles tentam unir-se.
Eles estão ocupados em realizar as mudanças no Poder Judiciário de que necessitam para safar-se agora, mas, com o tempo, desenvolverão formas mais elaboradas de receber suas propinas. E, principalmente, em algum tempo, recuperarão a concentrarão de poder que lhes permita preservar a leniência dos sucessores para evitar que a corrupção seja esclarecida. Mais importante que castigar os que foram pegos neste momento de transição é aproveitar sua fraqueza eventual para fortalecer a democracia.
A Reforma Política, sendo realizada pelos eleitos, dificilmente ampliará as chances de vitória das oposições. Entretanto, podemos explorar conflitos de interesses. A ampliação das inelegibilidades aos ministros e secretários pode contar com apoio de congressistas. A criminalização do financiamento das campanhas pelos proprietários e dirigentes das empresas com contratos com o governo e pelos seus “laranjas”, também, quem sabe?
Mais importante que tudo continuo achando que é o fortalecimento dos partidos. O fim das coligações e o voto em lista podem ser aprovados por, acidentalmente, satisfazer algum interesse eventual de políticos ameaçados. Precisamos que sejam aprovados, não pelo bem dos maus políticos, mas, pelo da democracia.

A opção é esta, entre defender a democracia com unhas e dentes ou permanecer sob um daqueles outros regimes a que Churchill se referia.

4 comentários:

  1. "A coisa é simples. Se temos necessidade de governantes, temos necessidade de limitar seu poder."

    O caso brasileiro é único. Fora do Brasil, os salários dos deputados não são maiores que a maioria da população. Deputados não podem aumentar seu próprio salario; ganham aumentos somente no caso da re-eleição. Coligações são contra lei. Deputados perdem mandato se for servir como ministro ou em outros cargos. No final, os deputados se protegem bem contra a saída da vida publica, e a posição do eleitor é cada vez mais fraca e sem futuro.

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    1. Interessante o subsídio dos deputados crescendo em caso de reeleição...

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  2. Só vamos começar a corrigir este país quando encararmos de frente as deficiências éticas e morais do nosso povo.
    As pessoas éticas não se apresentam para exercer cargos públicos ou de interesse comum. Observe as eleições para síndico em nossos prédios.
    Fato é que se os homens de bem não se apresentam, o espaço passa a ser ocupado por pessoas menos preparadas.
    Forte abraço.

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    1. Há um outro aspecto, tão importante quanto o senso de responsabilidade, que só se conseguirá criar com um longo trabalho de educação, o amor à verdade. A curiosidade científica, desenvolvida na escola desde cedo, acredito que formaria pessoas mais difíceis de serem enganadas e de serem capazes de querer enganar os outros. Isto é que poderia trazer a mudança radical nos nossos costumes políticos com que sonhamos.

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