sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Há conservadores e há liberais


Os conservadores são os que veem o mundo parado, as pessoas divididas em dois grupos estanques: o das que têm qualidades e direitos, as quais eles veneram e protegem, e o das que têm defeitos e deveres, que desprezam e exploram. Os liberais veem um mundo em construção, não avaliam as pessoas, mas, sim, o que elas tentam fazer e as amam como companheiras de campanha.
 Os conservadores confiam na memória; os liberais, no raciocínio. Os conservadores gostam de repetir o que veem repetido; os liberais se deliciam em explorar o novo. Os conservadores querem preservar os sítios históricos; os liberais lutam para libertar as forças da Natureza. Os conservadores cercam-se de bens materiais; para os liberais a riqueza que conta é espiritual.
 Os conservadores querem estar sempre certos; os liberais sentem que estão sempre errados. Os conservadores votam no partido, enquanto os liberais votam na proposta. Os conservadores querem um governo forte, para manter a ordem; os liberais querem um governo melhor, mas detestam a delegação de poderes. Os conservadores são a favor da violência institucional e contra a violência dos quebra-quebra; os liberais são contra as duas.
Os conservadores desconhecem o envelhecimento; os liberais ouvem a opinião dos velhos como contribuição nova. Os conservadores paparicam os filhos; os liberais crescem junto com eles. Os conservadores se julgam eternos como são, santos acima do bem e do mal, e sua religião serve apenas para diferenciá-los. Os liberais buscam a vida eterna e só aceitam um Deus amoroso que abre um caminho ao alcance de todos.
Os liberais sonham atrair os conservadores. Os conservadores prefeririam que os liberais não existissem.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Cobaias Humanas

Os Black bocs paulistas subiram no meu conceito. Abandonaram seus aliados sindicalistas e foram dar trabalho à polícia praticando suas diatribes em manifestação a favor dos quadrúpedes.

Não é possível convencê-los de que, enquanto não estamos preparados para contê-las por outros meios, o benefício publicitário que esperam de suas depredações para a causa do combate à repressão é inferior à perda que causam. Perda que se mede em justificativa para contratação de mais policiais trogloditas, que se tornarão torturadores, e mais advogados idiotas, que se tornarão legisladores. O prejuízo nessa equação só não é evidente para eles e para os que os utilizam como cobaias humanas.

Todo mundo desconfia, menos os jornalistas e os advogados do Brasil, que as manifestações deste ano nas nossas grandes cidades são obra de uma organização criminosa. Se se deve procurar prender os líderes dessa organização, é outra história. Sobretudo se, para encontrá-los, já se tornar necessário vasculhar casas legislativas, comissões da OAB e redações de jornais.

Investigar se os Black boçs presos participam de uma tal organização como definida em lei e garantir o seu direito de defender-se em liberdade de acusações a respeito são atividades da polícia e dos advogados a que a sociedade não se pode opor. Assim, aumenta o espaço de atuação das organizações parasitárias que florescem em torno da defesa da lei e da ordem.

Enquanto para os humanos a conquista da liberdade passa por vencer todas as boçalidades, os irracionais não tem outra forma de defender-se senão mordendo e arranhando. Sua defesa encontra nos Black boças legítimos representantes.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Faltam Professores

Mereceu destaque na Imprensa a decisão do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (SEPE), em assembleia realizada na quarta-feira passada, de “apoio incondicional aos Black Blocs” e de “organizar um grupo de autodefesa da categoria para os próximos atos”.
A baixa qualidade da Educação é uma das causas mais importantes da pobreza do Brasil. E o problema da nossa Educação passa pelos nossos educadores. Os sindicatos dos educadores poderiam ajudar a enfrentar o problema, se, em vez de empenhar-se em transformar profissionais da educação em lutadores de rua, lutassem por melhores salários para os melhores professores.
Com a baixa remuneração do magistério, só o amor ao magistério atrai professores qualificados para ensinar Matemática, Linguagens e Ciências da Natureza. Com falta de tais professores, a estrutura curricular do nosso ensino fundamental e médio reserva um grande espaço para áreas do conhecimento em que é mais fácil formar professores e para os especialistas das quais não há demanda em outros setores do mercado de trabalho. Ocorre que a contribuição das disciplinas escolares dessas áreas para a formação das crianças é, hoje em dia, dispensável. Na verdade, tal contribuição é muitas vezes negativa, pois, de casa, os estudantes poderão encontrar na internet fontes mais esclarecidas.
Para formar professores para disciplinas de Ciências Sociais, Artes e semelhantes, são oferecidos cursos superiores para o ingresso nos quais jovens de péssimo desempenho no Vestibular são aceitos e, uma vez aceitos, são levados adiante até formar-se mediante práticas de repetição de informações estereotipadas, adesão a ideologias e submissão a lideranças personalistas. Isto nos conduz a um quadro de professores em que é grande a parcela dos que desprezam o raciocínio e, em oposição, valorizam o voluntarismo, o adesismo e outros traços de caráter do âmbito da vontade e da afetividade.
Juntam-se a estes, outros cuja verdadeira vocação é para a política. Esses artistas, sociólogos e políticos que não encontram emprego nas profissões que desejariam ter vêm a constituir a liderança sindical dos educadores.
Tenho uma proposta de reforma da educação brasileira que afastaria de vez da escola a maior parte das lideranças do SEPE junto com seus grupos de autodefesa. Em uma primeira etapa, seriam extintas as classes de Ciências Sociais e Artes e mantidas apenas as disciplinas em que técnicas de raciocínio mais complexas são ensinadas, com a carga de aulas permitida pela quantidade de professores qualificados hoje disponíveis. Mais tarde seriam ampliados os currículos dessas disciplinas, com aulas de Cálculo de Probabilidades e de Otimização, por exemplo. As horas de aula inicialmente tornadas vagas seriam ocupadas, por algum tempo, com atividades de pesquisa na Internet e nas bibliotecas.
Aos professores das disciplinas extintas que desejassem passar para as disciplinas remanescentes seria dada a oportunidade de demonstrarem qualificação para tanto. Os que não quisessem ou não pudessem assumir tal responsabilidade seriam afastados do ambiente escolar, mas, enquanto não encontrassem emprego em outra profissão, seriam convidados para um novo jogo oficial, o de Duelos Retóricos. Um volume financeiro igual ao das despesas atuais com seus salários seria usado durante certo tempo para premiar os vencedores nesses jogos. Os juízes desses duelos seriam jovens selecionados pelo mesmo critério com que os líderes das manifestações de hoje selecionam os seus seguidores, a valorização da força física. Os jurados ficariam em um ringue e teriam o direito de dirimir a socos as suas questões. 
Como a minha proposta parece violar princípios jurídicos vigentes, quem sabe não consigo atrair uma parte desses novos parceiros do SEPE para virem proteger o meu direito de expô-la?...

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Mais e Melhores Médicos!



A resistência dos Conselhos de Medicina ao emprego de médicos formados no exterior tem pelo menos duas faces a serem examinadas com cuidado. Primeiro, há a exigência de que esses médicos sejam submetidos ao Revalida, o exame nacional recentemente criado para avaliar a qualificação de médicos formados em universidades estrangeiras que desejem exercer a profissão no Brasil. Mas, um segundo aspecto está se tornando mais importante à medida que são reveladas as urgentes carências das localidades a que esses médicos estão sendo destinados.
O Revalida é um grande progresso e precisa ser prestigiado. É um exame nacional, com componentes teóricos e práticos, que substitui um sistema de revalidação de diplomas estrangeiros complicado e burocrático. Impõe-se prestigiar o Revalida.
Os criadores, no Governo, do Programa Mais Médicos argumentam, para adiar a submissão ao Revalida, que há necessidade de atender emergencialmente populações em situação de abandono. Os médicos sem a aprovação no Revalida estão sendo contratados por um prazo limitado para atender solicitações de municípios com vagas em serviços de saúde não preenchidas pelos médicos brasileiros. É incontestável que as circunstâncias exigem a redução temporária das exigências de qualificação dos médicos.
A intransigência dos conselhos de classe dos médicos revela uma terrível falha na formação dos profissionais que credenciam. Argumentar-se-á que entidades de classe e corporações de ofício têm a obrigação de defender o mercado de trabalho dos profissionais que abrigam. Mas, têm também outras obrigações. As pessoas que as dirigem, ao colocar o interesse econômico da classe acima do bem maior do atendimento aos necessitados, revelam não apenas incompetência para geri-las. Revelam que falta humanidade a médicos escolhidos por médicos para representá-los.
A exigência até hoje de credenciamento para o exercício da profissão por corporações de ofícios, seja de médicos, seja de economistas, jornalistas ou pessoas com qualquer outra profissão é um absurdo. É verdade que a qualidade do ensino de muitas instituições ainda não merece confiança, diplomas universitários podem ser fraudados e, com o tempo, a formação de alguns profissionais caduca. Para lidar com isso, exija-se, periodicamente, a validação dos diplomas. Mas, essa validação, por um concurso nacional como o Revalida, é muito diferente da emissão de credenciais por uma Ordem de Advogados ou um Conselho de Engenheiros.
Depois da criação da Internet, nada impede que os governos administrem sítios com informação objetiva sobre a qualidade de qualquer profissional de qualquer área. Com essa informação disponível, é possível que, por certo tempo e em certas áreas ainda haja quem se disponha a exercer profissão para a qual não está qualificado. Deverá pagar por esse crime pena à altura do risco a que submeta direta ou indiretamente seus clientes. Mas, não há razão para crer que seja menor o número dos que praticam esse crime hoje, sob o atual sistema de credenciamento medieval. Ao contrário, a hipocrisia que preside o credenciamento pelos pares entorpece as consciências e estimula a fraude.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A Imprensa Livre



Uma contradição se destaca no panorama político do novo século. Torna-se flagrante nas pequenas organizações que se dizem anarquistas e reivindicam o papel de tropas de choque nas primeiras filas das manifestações juvenis. Mas está igualmente presente nas agruras que enfrentam sucessivos governos americanos formando talibãs e traidores. A tolice está em recorrer ao autoritarismo para defender a liberdade.
Comecemos pelos Estados Unidos. Pelo trauma que enfrentam no momento, com traições por funcionários de suas forças de segurança corrompidos pela atração de servir à Imprensa. Deixemos de lado o poder da Imprensa, por ora. O ponto aqui é: a defesa dos USA precisa de tantos funcionários? A frustração pela qual passam agora é uma versão mais íntima do que passaram quando viram suas iniciativas de apoiar e treinar agentes estrangeiros redundar na formação de terroristas. Mas, não é muito diferente. A recente revelação da presença de americanos nos grupos terroristas demonstra que arrogância, violência e traição andam juntas e surgem da mesma forma na fronteira, no exterior ou no âmago da nacionalidade.
Espero que esses exemplos possam ajudar o governo americano a perceber que a ampliação das suas forças de segurança chega a um ponto em que são obrigados a dar acesso às suas armas de guerra a indivíduos propensos a usar a violência a serviço de valores opostos aos seus interesses nacionais. Até agora, prevalecia a explicação completamente equivocada de que eram as convicções religiosas de islamitas ou as convicções filosóficas de socialistas que formavam o terrorismo. É, ao contrário, a convicção política que domina o Ocidente de que é ampliando a violência que se chegará a contê-la.
Os terroristas são apenas pessoas violentas. O que querem é impor sua vontade e, quando ocultam suas motivações sob o véu de valores religiosos ou outros valores muito respeitáveis, não são diferentes dos policiais que nos humilham na fronteira nem dos analistas que levam para os jornais as informações da Segurança. Os governos, empresas e iniciativas paranóicas que dão emprego e autoridade para pessoas assim só podem colher mais violência.
No Brasil, onde a democracia ainda tenta ocupar algum espaço, também há exemplos de entrega da defesa da democracia a mãos erradas, protaganizados pela Imprensa. Na imprensa alternativa tipo “mídia ninja”  que apoia os quebra-quebra junto com os anarquistas beligerantes e na grande imprensa que impõe condenações ao Judiciário e leis ao Legislativo.
Nossa Imprensa, à medida que se fortalece, se afasta do papel de servir o Povo, informando e honestamente manifestando a opinião das correntes que representa. Dos três poderes da República, o Legislativo é pelas suas funções e sua forma de constituição, aquele mais próximo do Povo, mas a Imprensa mantém-se olimpicamente afastada das eleições proporcionais e, uma vez constituída a representação popular, esmera-se em desmoralizá-la. Hoje, força os congressistas a abrir mão do segredo em algumas votações, prerrogativa que os protegia, não dos pobres eleitores, mas, sim, dos poderosos. É típico das falsas democracias que governos autoritários evitem o voto secreto.
Parcela cada vez maior do que publica a Imprensa visa a aumentar o seu poder e a promover os interesses dos seus aliados. Cooptar membros do Legislativo e do Judiciário, ao mesmo tempo em que os apresenta ao público como poderes não confiáveis, serve a esses objetivos. A liberdade da Imprensa é baluarte da democracia. O equilíbrio entre os poderes também. Mas, hoje quem concentra o poder no Brasil é o Quarto Poder. Aqui, as últimas barricadas da Liberdade estão no campo da Cultura.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

João Ubaldo Ribeiro para Presidente!

Antes de mais nada, fique claro que admito, sem qualquer dúvida, que seria imensa perda fazer João Ubaldo Ribeiro largar a literatura para salvar o país,. Não há que pensar na possibilidade de abrir mão do João Ubaldo escritor. Mas, a Reforma Política está em vias de consagrar a tese de que ao cidadão brasileiro, incapaz de optar entre ideias, deve-se assegurar o direito de votar em pessoas. Do Presidente do Supremo tribunal Federal deseja-se fazer o próximo Presidente da República com o simples objetivo de atestar nossa ojeriza à corrupção dos políticos. Então, resolvi criar o partido do João Ubaldo.
 Eu nunca conseguiria dizer com a leveza dele. Mas, o que ele disse do Lixo Zero do Prefeito do Rio no jornal deste Dia do Soldado é o que eu penso da Tolerância Zero e pretendi defender, desde a primeira edição deste blog, contra a Lei Seca. Toda essa violência repressiva nada mais é que violência pura, propaganda da violência, patrocínio da violência, proteção da violência...
Criar o emprego de fiscal de guimba de cigarro é tão escandaloso quanto a Lei Seca. Eu levei meses para me sentir na obrigação de me pronunciar sobre a Lei Seca e o João Ubaldo não deixou o Lixo Zero viver uma semana sem a primeira resposta!
Acho essa crônica de hoje tão importante que, mais que propor uma estátua para homenageá-la, proponho transformar seu autor em um partido político. O título que ele lhe deu, Melhorando Sempre, seria o lema do partido, cuja sigla, PSP, lembraria a do Partido Social Progressista, de Ademar de Barros, há meio século. Seria formada das iniciais de Partido do Salvador da Pátria. O progresso social de que o Brasil precisa, a limpeza na fachada que nos salvará, é dar a todos os atuais prefeitos e vereadores empregos de gari. 

Em vez de fiscais, lixeiras! Abaixo as leis hipócritas! Voltemos a nossa indignação contra um inimigo só, a violência! Temos um povo honesto, trabalhador e solidário e uma elite que se esconde atrás de leis estúpidas para praticar a mais sórdida ganância, para impor uma ordem social de exploração. Tratamento para psicopatas, educação para desajustados e expropriação da riqueza dos ladrões de colarinho branco. A isto tem de se reduzir a Lei Penal do nosso país.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Combate à Corrupção

Apareceram na Grande Imprensa calorosos elogios a ela própria por manter no noticiário o escândalo do suborno pago por cartel de empresas formado para ganhar licitações de obras de um governo estadual da Oposição ao Governo Federal.
Gostaria de ver tais elogios estendidos a atitude que, infelizmente, não encontro representada no noticiário, de situar esse escândalo na realidade da corrupção e da prevaricação no Brasil. Desde que, já há alguns anos, um presidente da República declarou normal o recebimento de recursos para Caixa 2 de campanha eleitoral, acredito que nos falta um esforço jornalístico para esclarecer como se processa a corrupção nos editais públicos e avaliar a participação das autoridades com mandato eletivo na apropriação dos recursos por esse meio roubados dos cofres públicos.
Divulgar detalhes de mais um caso hoje é muito pouco. Contribui para sedimentar na consciência nacional a convicção de que é tudo a mesma coisa. Ao contrário, o combate à corrupção precisa é de que se divulguem detalhes sobre os canais que ligam empresários corruptores e políticos corruptos. Por exemplo, há necessidade de tantas licitações? A negociação do governo com empresas privadas não poderia ser limitada à aquisição daqueles bens e à contratação daqueles serviços para os quais seja possível identificar número considerável de fornecedores idôneos?
A divulgação deste caso, que pode envolver partido do lado oposto ao do ex-presidente referido, favorece a sua tese de que todo mundo faz o mesmo. Tese levantada, na ocasião, para sustentar que os punidos pelo STF no Escândalo do Mensalão se diferenciam apenas por terem sido pegos. É como se a Imprensa se dispusesse a convencer-nos que somos todos ladrões e os que são condenados se diferenciam apenas pelo azar de terem sido alcançados pela polícia.

A divulgação de novos escândalos sem o devido aprofundamento serve ao interesse de anestesiar a opinião pública. Se a corrupção é tão ampla, a divulgação dos novos casos deveria ser acompanhada de informação sobre quais políticos, por seus parentes e assessores, continuam indo a agências bancárias receber grandes volumes de dinheiro. E da investigação das formas como isso está sendo combatido. Aos encômios à Imprensa por saber lidar com a indignação do povo, eu gostaria de poder juntar outros, pelo seu efetivo empenho em contribuir para a correção dos costumes das nossas elites.Apareceram na Grande Imprensa calorosos elogios a ela própria por manter no noticiário o escândalo do suborno pago por cartel de empresas formado para ganhar licitações de obras de um governo estadual da Oposição ao Governo Federal.
Gostaria de ver tais elogios estendidos a atitude que, infelizmente, não encontro representada no noticiário, de situar esse escândalo na realidade da corrupção e da prevaricação no Brasil. Desde que, já há alguns anos, um presidente da República declarou normal o recebimento de recursos para Caixa 2 de campanha eleitoral, acredito que nos falta um esforço jornalístico para esclarecer como se processa a corrupção nos editais públicos e avaliar a participação das autoridades com mandato eletivo na apropriação dos recursos por esse meio roubados dos cofres públicos.
Divulgar detalhes de mais um caso hoje é muito pouco. Contribui para sedimentar na consciência nacional a convicção de que é tudo a mesma coisa. Ao contrário, o combate à corrupção precisa é de que se divulguem detalhes sobre os canais que ligam empresários corruptores e políticos corruptos. Por exemplo, há necessidade de tantas licitações? A negociação do governo com empresas privadas não poderia ser limitada à aquisição daqueles bens e à contratação daqueles serviços para os quais seja possível identificar número considerável de fornecedores idôneos?
A divulgação deste caso, que pode envolver partido do lado oposto ao do ex-presidente referido, favorece a sua tese de que todo mundo faz o mesmo. Tese levantada, na ocasião, para sustentar que os punidos pelo STF no Escândalo do Mensalão se diferenciam apenas por terem sido pegos. É como se a Imprensa se dispusesse a convencer-nos que somos todos ladrões e os que são condenados se diferenciam apenas pelo azar de terem sido alcançados pela polícia.
A divulgação de novos escândalos sem o devido aprofundamento serve ao interesse de anestesiar a opinião pública. Se a corrupção é tão ampla, a divulgação dos novos casos deveria ser acompanhada de informação sobre quais políticos, por seus parentes e assessores, continuam indo a agências bancárias receber grandes volumes de dinheiro. E da investigação das formas como isso está sendo combatido. Aos encômios à Imprensa por saber lidar com a indignação do povo, eu gostaria de poder juntar outros, pelo seu efetivo empenho em contribuir para a correção dos costumes das nossas elites.