Os relatos de dois crimes que
ocuparam nos últimos dias muitas páginas dos jornais do Rio ilustram bem a
necessidade de substituir o princípio de punição adequada ao tipo de crime pelo
de tratamento, adequado não ao crime, mas, sim, ao criminoso.
No primeiro dos dois crimes, os
autores se revezavam ao volante de uma van enquanto roubavam e estupravam os
passageiros. O segundo, igualmente chocante, foi cometido por um estudante de
engenharia, que agrediu o motorista de um ônibus em movimento provocando a
queda do veículo de um viaduto, mortes e ferimentos em muitas pessoas.
Os dois crimes têm vários
elementos em comum. Ambos foram cometidos por jovens de vinte e poucos anos.
Jovens educados, no sentido de terem recebido qualificação escolar suficiente,
no primeiro caso, para dirigir um veículo e, no segundo, para ingressar em um
curso superior. E reincidentes, os primeiros já tendo assaltado passageiros,
alguns dos quais apresentaram queixa à Polícia, que ainda não tinha
identificado os culpados. Contra o segundo tinham sido registradas queixas de
agressão e, embora apontassem devidamente o autor, não tinham dado origem a
nenhum processo judicial. Finalmente, a cobertura dada pelos jornalistas aos
crimes estendeu-se, em ambos os casos, do clamor por castigo à exigência de
maior fiscalização das atividades das empresas de transporte urbano.
Uma vez fui atropelado por um
motoqueiro. Quando o sinal abriu, avancei pela faixa de pedestres. Ele vinha a
toda velocidade entre os carros e, como anunciava sua aproximação tocando uma
buzina estridente, sentia-se dispensado de obedecer ao sinal fechado. A Justiça
Vindicativa é um exemplo desse mesmo tipo de desvio da racionalidade. Pretende
corrigir um erro com outro.
Quando eu peço que se combata o
crime com educação em vez de punição, não estou excluindo a possibilidade de
que o crime revele psicopatas que precisam ser afastados do convívio social.
Mas, o que fez o nosso sistema com os jovens acima, quando começaram a demonstrar
suas tendências antissociais? Absolutamente nada que prevenisse os crimes
bárbaros que cometeram a seguir. A Polícia estava muito ocupada na caça aos
autores de crimes tipificados como mais graves, como o tráfico de drogas e a formação
de empresas para oferta de transporte inseguro, para deter-se em casos de
agressão, mesmo que associada a brutalidade e roubo.
Assim concebida, a Polícia
– junto com o noticiário policial – constitui uma superestrutura estridente em
cima de uma estrutura errada. Uma superestrutura cara que nada corrige. Sua
função primeira é desviar a atenção, das causas para os efeitos.
As causas estão na
estrutura social e na formação das pessoas. No primeiro caso, o que se pode
fazer é simplificar a organização para tornar desnecessária a repressão. Mas, o
mais importante são as pessoas. Neste caso, a solução está na educação.
A Educação precisa melhorar,
não apenas no sentido de manter as crianças e adolescentes mais tempo na
escola. Mas, principalmente no sentido da qualidade, oferecendo, não só, ensino
diferenciado em função da capacidade de aprendizagem, mas, também, atendimento
diferenciado em função da necessidade de incorporação de valores de respeito
humano. Sobre um sistema educacional apropriado, será possível desenvolver um
sistema penal baseado em práticas educativas para recuperar os infratores em
vez do atual sistema, formador de marginais.
Em muitos países europeus existe o sistema de trabalho comunitário como forma de punição. Existe também a reunião do agressor e vitima junto com um profissional que media esse encontro. São atitudes simples, que praticamente não geram gastos (muitas vezes até produzem renda) e que podem transformar de verdade uma pessoa. Muito diferente das prisoes. Eles usam isso até, e principalmente para os pequenos delitos! Acho bem interessante.
ResponderExcluirJoana
ResponderExcluirEsse também me parece um bom sistema.
Múltiplos fatores afetam a personalidade de cada um, mas, se a sociedade reage rápido às manifestações antissociais, pode reintegrar o indivíduo propenso ao crime. Um sistema penal baseado em respostas violentas como a prisão e a discriminação torna-se lento, não consegue responder a tempo e se torna mais um fator de perversão.
Obrigado pelo comentário.
Annibal