O combate ao jogo e ao consumo de drogas se justifica pelos extremos de degradação humana a que o vício
conduz. A criminalização da oferta do jogo e das drogas, entretanto, não parece
reduzir o risco de pessoas serem atraídas para o vício. Ao contrário, com o
aumento da remuneração devido ao risco, a oferta no Brasil cresceu sem parar. A
dificuldade de obter informação às claras aumenta a vulnerabilidade dos jovens
e a propaganda boca a boca emprega a clandestinidade a seu favor.
Além de não conter o uso, a proibição gera novos males. A
ilegalidade leva ao desenvolvimento de uma economia paralela, com regras
próprias de garantia dos contratos. Os comerciantes ilegais armam exércitos
para proteção dos seus estoques e cobrança de dívidas. Os viciados que não
pagam dívidas constituídas para alimentar o vício são as vítimas mais lamentáveis
das mortes violentas na nossa sociedade.
Uma consequência indireta
do desenvolvimento da economia paralela fomentada pela estratégia
proibicionista é que amplia o mercado para os agentes financeiros
especializados na lavagem de dinheiro. Isto tem reflexos nas mais altas esferas
da economia e da política.
Se a política de proibição for abandonada, empresas poderão
ser constituídas legalmente para concorrer com os ilegais, pagando impostos e
respeitando princípios de proteção à saúde dos usuários dos seus serviços. Além
de não se esquivar ao pagamento de impostos, cada casa de jogo ou venda de
drogas poderá ser obrigada a manter estrutura de combate ao vício, acompanhando
potenciais viciados e informando seus familiares ou instituições de apoio que
evitem a exploração deles por ilegais. Já a repressão facilita o controle dos
viciados pelos traficantes.
Embora as loterias e a venda de bebidas alcoólicas já
ocorram regularmente, a exploração controlada do jogo e do comércio de drogas
enfrenta oposição da opinião pública conservadora, manipulada pelos interesses
escusos dos beneficiários da exploração ilegal. Estes estão representados na polícia
e na política, posto que governantes e agentes da lei são pagos para proteger
áreas em que se desenvolvem atividades proibidas contra a repressão.
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