Uma intervenção desejável do Governo na economia é o apoio
ao desenvolvimento da pesquisa científica. Entretanto, neste aspecto também, a
atuação do governo brasileiro, ao longo das últimas décadas, conseguiu
substituir o serviço do interesse público pelo da oligarquia.
Os dois instrumentos básicos da política científica, a
concessão de bolsas de estudos e o apoio a projetos de pesquisa se
transformaram gradativamente em mecanismos de simples desvio de renda. Para
isso, se utilizou a veneranda estratégia de fantasiar de critérios de mérito
critérios de simples reconhecimento de valores estabelecidos.
As bolsas de estudos deixaram de ser dirigidas aos jovens
que demonstrem, pelo seu desempenho acadêmico, maior potencial de pesquisa, e
passaram a ser dirigidas aos programas
de pós-graduação mais bem avaliados. Por seu turno, os programas de
pós-graduação, assim como os pesquisadores e quaisquer outros proponentes de
projetos de pesquisa, são avaliados, não pela qualidade, mas, cada vez mais
exclusivamente, por dois indicadores: a quantidade de artigos publicados em
periódicos de renome internacional e a quantidade de títulos de doutor
concedidos.
Este segundo atributo dispensa maior análise. O poder de
conceder títulos e a qualificação para recebê-los são clássicos instrumentos de
preservação artificial das elites.
O outro é ainda mais perverso. Impõe uma atitude de
colonizado e induz uma aproximação com grupos de pesquisa estrangeiros que não contribuem para o desenvolvimento da autonomia na pesquisa.
Não há dúvida de que os países emergentes têm de se voltar
para o exterior se quiserem fortalecer sua capacidade de pesquisa. Para isso,
usávamos dois mecanismos eficientes: o envio dos melhores estudantes para as
melhores universidades estrangeiras e a atração de pesquisadores estrangeiros
capazes de alavancar pesquisas nas nossas universidades. Com a exigência de
publicar no exterior, não nos fortalecemos em nada. Em vez de buscarmos a
excelência, o caminho fácil apontado por este indicador é a aproximação no
exterior com linhas de pesquisa secundárias e com grupos de pesquisa cuja
mentalidade etnocêntrica se compraz em satisfazer a necessidade de publicar dos
que se submetam à sua liderança.
Ressalvo que esta ainda não é a regra geral. Eu mesmo, durante muitos anos desfrutei de bolsas de produtividade em pesquisa. Simplesmente porque os frutos menos importantes da minha atuação na Universidade me qualificavam para ter meus projetos aprovados e a comprovação dessa qualificação favorecia as instituições em que trabalhei. Isto foi um erro, na minúscula medida em que serviu de respaldo a um sistema errado. Erro que pretendo nunca mais repetir.
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