É indiscutível o benefício de se oferecerem fundamentações
religiosas para os pais que têm de lidar com filhos anencéfalos ou
microcéfalos. Mas, daí a defender leis que ameacem os que adotem as condutas
que contrariem os princípios que se julga que devem prevalecer vai uma grande
distância. Eles enfrentam realidades complexas e agradecem se não as
complicarmos mais com nossas leis e outras intervenções abusivas.
Em nosso país, diariamente morrem pessoas atingidas pela
fome e por balas perdidas. Outros são vítimas de latrocínios. Outros morrem em
guerras de facções criminosas. Outros, em rebeliões nos presídios. Enquanto
discutimos castigos para quem pratica o aborto ou para quem não desentope as
calhas, somos todos autores desses crimes de morte.
E, mesmo fora dos presídios, somos todos castigados por
cometê-los. Castigados com a insegurança que cresce a cada dia. E castigados
pela consciência do nosso farisaísmo.
As nossas leis penais são elaboradas com as técnicas mais
refinadas. Ao avaliar as condutas criminosas, nosso sistema jurídico manda
considerar circunstâncias agravantes e atenuantes. Limitações para prisões
temporárias, preventivas e coercitivas são rigorosamente definidas. As penas de
privação da liberdade tem sua duração reduzida ao máximo e são substituídas por
penas mais leves. O fato é, entretanto, que as prisões estão cada vez mais
cheias. E, para sobreviver aos terríveis sofrimentos que elas impõem, forçam
cada vez mais pessoas submetidas ao encarceramento a abrir mão da sua
humanidade. São fábricas de bandidos.
Os nossos líderes políticos e os nossos grandes empreiteiros
começaram a ser presos. Urge acomodá-los em prisões em que possam ser
reeducados. Para isso, é preciso livrar as penitenciárias da presença da multidão
levada a participar de atividades como o tráfico de drogas e a exploração do
jogo por falta de alternativas.
A descriminalização de condutas condenáveis,
mas, que, num ambiente repressivo, só fazem crescer, é, antes de tudo, uma
forma de combater os maiores crimes, que são os que praticamos contra os nossos
presos desarmados. Usemos professores para combater os mosquitos e polícia
apenas para os camelos.
Mto bom!!!
ResponderExcluir