O modelo brasileiro de fomento à
pesquisa através do apoio à pós-graduação, com a estrutura cartelizada que lhe
deu o Regime Militar, não atingiu os resultados desejados, no que concerne ao
desenvolvimento de núcleos de produção de inovação tecnológica. Há uma razão
para isto. O sistema permaneceu sob o controle das lideranças disponíveis.
Falta a essas lideranças, muitas vezes, qualificação para desenvolver a
pesquisa. Falta-lhes, também, motivação para empregar métodos de gerenciamento
que estimulem o comprometimento de cada pesquisador com metas coletivas.
O instrumento chave usado pelas
lideranças encasteladas no sistema de pós-graduação para preservar seu poder é
o processo de seleção para a carreira universitária. Este processo de seleção é
viciado pelo uso como barreira de ingresso da exigência de titulação em curso
de pós-graduação concluído no país (a revalidação de diplomas servindo como
exceção que confirma esta regra).
Outro componente típico das
avaliações do magistério superior é a contagem de publicações por bancas
examinadoras formadas por representantes do sistema de pós-graduação. O caminho
para ter artigos publicados nos periódicos preferidos é aberto pela coautoria
com os líderes, que, por seu turno, frequentemente usam a sua posição no sistema
universitário para associar-se aos especialistas estrangeiros em posição de
editores de periódicos bem credenciados.
Ao menos nas áreas relevantes
para o desenvolvimento de tecnologia é preciso romper a estagnação criada por
esses mecanismos. Não se pode afrontar o sistema, mas o Brasil precisa atrair
pessoas capazes para setores críticos para o desenvolvimento da pesquisa nas
universidades. Para isso, imagino uma estratégia de três pilares: valorização
do magistério, aproveitamento prático dos que já ocupam lugares na carreira
docente e processos de seleção universais.
É uma estratégia mais difícil de
implantar que a de alimentar focos de excelência subsidiando cursos de
pós-graduação. Para valorizar a carreira, o método mais eficiente é aumentar as
remunerações. Também são tão grandes as carências da Educação no Brasil que há
muito onde aproveitar todo corpo docente dos cursos de pós-graduação que, sem
os subsídios, percam alunos. O ponto mais complicado é o da atração das pessoas
para ocupar as vagas estratégicas criadas.
Para isso diviso a criação de uma
Campanha de Atração para a Pesquisa Científica. As instituições interessadas em
criar programas de pesquisa visando ao desenvolvimento de inovação tecnológica
e da ciência básica necessária ao desenvolvimento da tecnologia receberão
equipes contratadas pelo governo federal. Para formar essas equipes,
brasileiros e estrangeiros serão chamados a competir em provas escritas de
português, inglês e conhecimento das suas especialidades. Os critérios de
seleção precisam ser inteligentes, abertos e motivadores. Há muito que ser
organizado, mas, parece-me que o modelo do Mais Médicos pode ser usado para superar
as dificuldades legais.
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