Li em crônica dO Globo que os políticos brasileiros oscilam entre
agradar a Imprensa e a Universidade, movidas pelas ideias, e a maioria, movida
pelo sentimento. Discordo. Em primeiro lugar, na Imprensa e na Universidade
brasileiras, são pequena minoria aqueles capazes de desenvolver autonomamente
um silogismo sequer. Isto vale para o Brasil e para todos os países do mundo,
uns mais, outros menos. É a limitação intelectual das nossas elites, não o fato
de que a massa dos eleitores pensa com o estômago, a causa do nosso atraso.
Além disso, medo e esperança, egoísmo e inteligência estão em cada um de
nós, aquele sempre muito mais forte que esta. Todos têm muito a perder, mesmo
os que vivem da bolsa-família. Se a estes chegar a notícia de que a chefe do
governo foi capaz de, ao representar a nação na ONU, humilhar-nos com um
discurso de campanha eleitoral, perderá entre eles mais votos que entre os que
na Imprensa terão de buscar novos anunciantes se perderem a eleição.
Um acidente viabilizou nesta campanha eleitoral uma candidatura
que propôs uma Nova Política. Propôs substituir os personalismos e
partidarismos pelo confronto de ideias, substituir os compromissos ocultos por
ouvir a sociedade, substituir a demagogia pelo respeito à vontade do povo.
Depois do espanto inicial, toda a Velha Política
mobilizou-se ferrenhamente contra ela. Governo e Oposição encheram o programa
eleitoral de intrigas: no confronto entre pastores e homossexuais, está mais do
lado dos primeiros que nós; quer dar independência ao Banco Central para
proteger os banqueiros, não a moeda; sua campanha tem uma caixa 2 como a nossa,
fecha os olhos à corrupção tanto quanto qualquer político...
Eu imaginei, que, na Imprensa, essa escandalosa mobilização merecesse
alguma condenação. Ao contrário, os analistas políticos vieram com novas
críticas. Ao denunciar os motivos da campanha de que era vítima, a nova candidata
estaria demonstrando sua fraqueza... Ao não usar seu mínimo tempo de TV para esclarecer as
dúvidas criadas, estaria demonstrando despreparo...
A Esperança às vezes vence o medo. Collor, esperança criada
pela TV, venceu. Lula, esperança criada pelos militares, venceu. Mostraram
depois que não traziam nada de novo. Um foi derrubado, outro absorvido pela
corrupção.
Mas, desta vez, há boas razões para acreditar no novo. Eu acredito
que Marina, a seringalista, vai zerar o desmatamento como promete a sua
plataforma. Eu acredito que Marina, a pobre, vai ampliar o Bolsa-Família tanto
quanto diz. Eu acredito que Marina a analfabeta que já fala como uma
professora, vai ouvir.
Não temais! Precisamos de uma reforma eleitoral, de uma
reforma política. Marina foi senadora e ganhou o respeito dos bons políticos
que promete aproveitar: Pedro Simon, Eduardo Suplicy... Com eles, mas,
sobretudo com o que há de bom em cada um de nós, vai vencer a Velha Política.
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