A presidente foi reeleita com vantagem maior nos estados
mais pobres do Brasil e desvantagem nos mais riscos estados. Concluiu-se daí
que ela era a candidata dos pobres e seu oponente, o dos ricos. Nada mais
equivocado.
Os ricos são, naturalmente, mais conservadores que os
pobres. E o único tema político diferenciando os candidatos no segundo turno
desta eleição era a continuação no poder de uma equipe de governo pelo quarto
mandato ou a sua substituição por outra. A oposição prometia manter e
aperfeiçoar todos os programas sociais e econômicos do atual governo.
O PT e o PSDB são, historicamente, partidos de esquerda,
como outros 30 no Brasil. Têm ambos dominante participação da elite universitária
paulista. Há 12 anos, o PT substituiu o PSDB na presidência da república e,
aliando-se no Congresso ao PMDB, deu continuidade a sua gestão e satisfez,
tanto ou mais que seu predecessor, os interesses legítimos ou escusos do
empresariado. Hoje não se pode encontrar qualquer oposição ideológica entre os
dois.
Para entender a divisão é preciso ver que os partidos contam
muito pouco nas nossas eleições. O PT é, de fato, o único partido cuja sigla
tem adeptos, mas essa preferência afeta pouco mais de 10% do eleitorado. Isto basta para decidir uma eleição
presidencial, mas, não explica a divisão geográfica.
No Brasil, a elite conservadora tem amplo controle do
processo eleitoral. Não se vota em partidos ou plataformas, a escolha é apenas
entre pessoas. O sociólogo Fernando Henrique Cardoso, defendendo seu candidato
em certo momento, explicou a clivagem como uma diferença entre informados e
desinformados. Acredito, parcialmente, nessa explicação.
Na verdade, a origem da divisão está em que, nos estados
ricos, é maior a proporção dos que têm tempo para assistir os debates na TV enquanto,
por outro lado, nos estados pobres, é maior a proporção daqueles que, vítimas
do analfabetismo funcional, só conseguem dar importância à presença física, o
rosto, o gestual, a voz dos candidatos.
O marketing da
candidata à reeleição foi notável na produção de uma imagem visual de energia e
sensibilidade que, junto com o fato de tal imagem ser vendida nacionalmente há quatro
anos, foi, em alguns momentos, suficiente para lhe dar grande vantagem. A meu
ver, o que inverteu essa situação nos estados de economia mais avançada foi sua
dificuldade de concatenar frases e perceber nuances conceituais, que só aparece
quando é forçada a improvisar respostas. Nos debates, ela repetiu as respostas
que ensaiou com sua equipe, mas, se perdeu nas ligações e nos detalhes. Na
campanha anterior, essa dificuldade foi atribuída à inexperiência. Desta vez deixou
claro para quem prestou alguma atenção que, se a escolha era de um gerente de
alto nível, ela era a pior qualificada.
O engraçado
é que, se ela e seu antecessor tivessem retribuído aos estados pobres o apoio
nas eleições anteriores com apoio para o desenvolvimento que só lhes pode dar a
elevação da qualidade do seu sistema educacional, não teria tido uma votação
tão alta nesses estados e não teria sido reeleita.
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