A Imprensa é o Partido contra os Partidos. Por várias
razões:
- Erros são notícia e acertos, não. A Imprensa precisa chamar a atenção para sobreviver. Criticas às lideranças políticas atraem mais interesse do que opiniões favoráveis.
- O órgão de Imprensa que se identifique com um partido, incorrerá no desagrado do público quando o seu partido errar. Os órgãos de Imprensa precisam agradar o público.
- Independência em relação aos partidos impõe credibilidade. O público prefere pagar por uma opinião isenta a esperar dos diferentes órgãos de Imprensa opiniões comprometidas com diferentes correntes políticas.
- Na democracia representativa, os partidos não ganham as eleições se não adotam posições próximas da maioria do eleitorado. Os jornalistas têm posição social mais elevada que a da maioria, no que concerne a educação e cultura. Mesmo que sejam poucos os que têm posições fora do espectro dos partidos consentidos pelas limitações constitucionais ou pertençam a grupos de interesse especial, são também poucos os que se sentem plenamente representados pelas posições mais de acordo com a massa dos eleitores. A Imprensa, até certo ponto, reflete a posição dos jornalistas.
Sejam estas ou não as razões teóricas, é
inegável que, na prática, a Imprensa no Brasil têm tido posições cada vez mais
críticas aos partidos. Chegamos a ler, ontem, um PCBista da era de Stalin
acusar os partidos do Ocidente de ineficiência e, no parágrafo seguinte, de
pretenderem o monopólio da representação política. Hoje uma pesquisa de opinião
justifica a manchete de primeira página no mesmo jornal: Partidos são corruptos
para 81%.
Tanto quanto a
ida do povo às ruas é a oportunidade para que os extremistas procurem
enfraquecer os poderes constituídos na expectativa da tomada do poder pela
força, a convocação da manifestação direta dos eleitores sobre o processo
eleitoral também pode abrir espaço para a derrubada de princípios básicos da
democracia. Se chamada a manifestar-se a respeito hoje, creio que a maioria da
população apoiará a ideia de que é desperdício a manutenção de partidos
políticos, casas legislativas e eleições.
Ainda que não se
chegue a esse ponto, mesmo propostas mais simples de aperfeiçoamento
democrático não creio que possam ser aprovadas por plebiscito. O que esse
desvio da Imprensa torna mais necessário defender, neste momento, para
fortalecer a democracia são os partidos. Nessa direção nem mesmo a proposta de
voto em lista predeterminada pelos partidos creio que possa ser aprovada. Ao
contrário, o direito de o povo eleger representantes sem posição definida,
representantes de sovietes ou de distritos regionais terá muito mais
simpatizantes.
A
democracia republicana é baseada na representação do povo por partidos
nacionais que congregam pessoas cujas convicções são expostas claramente. A
confiança da grande maioria dos eleitores nessas pessoas, diferentes grupos de
eleitores sentindo-se representados por diferentes partidos, garante a
estabilidade política necessária à preservação da segurança jurídica, ao
desenvolvimento da iniciativa econômica e ao progresso social. Diante da
insegurança gerada pela violência inserida nas manifestações
recentes pelos extremistas, maior se torna a importância de fortalecermos
os partidos.
Se a imprensa
independente vier a abrir mão da sua neutralidade para representar um partido
ou se grupos econômicos quiserem destinar recursos a campanhas de partidos que
satisfaçam seus interesses, não há porque evitar essas manifestações de
preferência. São da mesma natureza das manifestações de eleitores que se
dedicam à busca de apoio às bandeiras dos partidos que os atraem. A garantia de
ampla divulgação às posições divergentes permitirá aos cidadãos separar os
motivos e formar convicções cada vez mais bem fundamentadas.
Esse apoio à
divulgação das ideias pode ameaçar a viabilidade econômica dos órgãos de
imprensa menos competentes. Mas, não ameaça a imprensa livre. Ao contrário,
efetivamente a promove.
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