Os porões da ditadura não foram diferentes
dos da polícia de antes e depois. As “comissões da verdade” vêm conseguindo
identificar locais fora das dependências policiais onde suspeitos eram mantidos
presos e se realizava tortura. Mas, a todo instante, denúncias da mesma
natureza são feitas contra a polícia do século XXI. E, assim como o DOPS antes
da tomada do poder pelos militares já se notabilizava pelo tratamento cruel dos
seus detidos, o tratamento hoje aplicado aos presos comuns não é diferente.
É impossível garantir que os inimigos
políticos dos governantes não serão nunca mais tratados como inimigos públicos.
E enquanto houver uma estrutura organizada para a repressão, haverá espaço para
estendê-la aos inimigos do regime.
Agora parecemos estar entrando em um
momento idêntico, sob esse aspecto, ao que vivemos no Governo João Goulart.
Grupos de políticos se organizam para mobilizar estudantes. Criam manifestações
com o objetivo de desafiar a polícia. Jornalistas que compõem esses grupos aproveitam
o interesse da Imprensa em fatos inusitados para ampliar a importância dos
confrontos e o descrédito da população nos governantes e na polícia. Como os
motivos das manifestações não são significativos para a população, o objetivo
das ações é provocar a reação da polícia para que e os excessos da repressão
passem a ser o tema a ser explorado. Essa é a sua estratégia para conquistar o poder.
Os grupos que se impõem a seus países por esses
métodos mostram-se mais corruptos e sanguinários que quaisquer outros. Podem,
também, como ocorreu no Brasil em 1964, propiciar o acesso de grupos oponentes
ao poder. Em qualquer caso, nos regimes violentos assim gerados, a sanha dos
poderosos se voltará contra os mais capazes e mais honestos. Lamentamos tantas
vidas perdidas no período em que a repressão se estendeu aos adversários
políticos, porque então os assassinatos praticados pelos agentes da repressão
atingiram pessoas mais próximas de nós que o habitual.
É enfrentando os torturadores do presente,
não os do passado, que nos elevaremos à altura dos nossos mártires. Continuar a
luta pelos direitos de todos deve ser a nossa homenagem ao seu sacrifício.
Toda lei que abra espaço ao uso de mais
violência precisa ser combatida. Quando vejo a "Lei Seca" dar
oportunidade a que, no meio da rua, debaixo de balões e holofotes, policiais
tomem o instrumento de trabalho de um cidadão que não fez sua vistoria porque
não teve dinheiro para pagar as multas, tenho certeza de que a tortura não
acabou. Esses agentes elegantes serão os torturadores de políticos da oposição
no próximo endurecimento do regime.
Esse endurecimento se ensaia cada vez que
se instala um novo prefeito “linha-dura”, uma nova “operação lei e ordem”, uma
nova lei tipificando novos crimes e criando novos Departamentos da Ordem
Política e Social. Suas raízes estão na falta de esclarecimento de uma única
verdade: de que como Deus nos ama podemos amar-nos uns aos outros.
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