sábado, 21 de março de 2015

Programa MAIS PESQUISADORES

O modelo brasileiro de fomento à pesquisa através do apoio à pós-graduação, com a estrutura cartelizada que lhe deu o Regime Militar, não atingiu os resultados desejados, no que concerne ao desenvolvimento de núcleos de produção de inovação tecnológica. Há uma razão para isto. O sistema permaneceu sob o controle das lideranças disponíveis. Falta a essas lideranças, muitas vezes, qualificação para desenvolver a pesquisa. Falta-lhes, também, motivação para empregar métodos de gerenciamento que estimulem o comprometimento de cada pesquisador com metas coletivas.
O instrumento chave usado pelas lideranças encasteladas no sistema de pós-graduação para preservar seu poder é o processo de seleção para a carreira universitária. Este processo de seleção é viciado pelo uso como barreira de ingresso da exigência de titulação em curso de pós-graduação concluído no país (a revalidação de diplomas servindo como exceção que confirma esta regra).
Outro componente típico das avaliações do magistério superior é a contagem de publicações por bancas examinadoras formadas por representantes do sistema de pós-graduação. O caminho para ter artigos publicados nos periódicos preferidos é aberto pela coautoria com os líderes, que, por seu turno, frequentemente usam a sua posição no sistema universitário para associar-se aos especialistas estrangeiros em posição de editores de periódicos bem credenciados.
Ao menos nas áreas relevantes para o desenvolvimento de tecnologia é preciso romper a estagnação criada por esses mecanismos. Não se pode afrontar o sistema, mas o Brasil precisa atrair pessoas capazes para setores críticos para o desenvolvimento da pesquisa nas universidades. Para isso, imagino uma estratégia de três pilares: valorização do magistério, aproveitamento prático dos que já ocupam lugares na carreira docente e processos de seleção universais.
É uma estratégia mais difícil de implantar que a de alimentar focos de excelência subsidiando cursos de pós-graduação. Para valorizar a carreira, o método mais eficiente é aumentar as remunerações. Também são tão grandes as carências da Educação no Brasil que há muito onde aproveitar todo corpo docente dos cursos de pós-graduação que, sem os subsídios, percam alunos. O ponto mais complicado é o da atração das pessoas para ocupar as vagas estratégicas criadas.

Para isso diviso a criação de uma Campanha de Atração para a Pesquisa Científica. As instituições interessadas em criar programas de pesquisa visando ao desenvolvimento de inovação tecnológica e da ciência básica necessária ao desenvolvimento da tecnologia receberão equipes contratadas pelo governo federal. Para formar essas equipes, brasileiros e estrangeiros serão chamados a competir em provas escritas de português, inglês e conhecimento das suas especialidades. Os critérios de seleção precisam ser inteligentes, abertos e motivadores. Há muito que ser organizado, mas, parece-me que o modelo do Mais Médicos pode ser usado para superar as dificuldades legais.

domingo, 15 de março de 2015

Otimismo!

As novas leis do combate à corrupção começaram a fazer efeito. Delação premiada, acordos de leniência e sanções econômicas estão produzindo os primeiros resultados. É necessária maior cooperação internacional, mas, os poderosos ladrões já se estão vendo ameaçados. E há razão para confiar na cooperação internacional, visto que a pressão que resultou nessas leis e em convênios de troca de informações bancárias veio do exterior.
Mesmo políticos no governo começam a ser pegos. Embora não se possa esperar que algum dia bandidos deixem de usar o poder econômico e a demagogia para fraudar as campanhas eleitorais.  Por isto, ainda é importante a luta para limitar o poder dos governantes.
Mais importante, porém, é defender a democracia, que, ainda incipiente e frágil, continua resistindo. A imediata aprovação do Projeto da Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, que proíbe o financiamento das campanhas eleitorais por empresas, limita o valor do financiamento por pessoas físicas e estabelece o voto em lista nas eleições proporcionais, entre outras medidas saneadoras, seria uma excelente resposta do Congresso Nacional às ameaças à democracia que se vêm desenvolvendo à sombra dos erros do governo.   
A democracia pode ter mil defeitos, mas uma única virtude faz dela o melhor dos regimes: a rotatividade. Isto não significa que toda mudança de governantes seja para melhor. O mais provável é o contrário. Quem ganha a eleição majoritária é o mais inescrupuloso no uso dos expedientes para enganar a maioria. Mas, enganar a muitos por muito tempo é mais difícil. Além disso, sempre há a possibilidade de outro mais inescrupuloso usar golpes mais baixos na próxima campanha eleitoral.
A expectativa da mudança contém a sanha criminosa dos que estão no poder. A menos que sejam idiotas - e neste caso também terão grande dificuldade em permanecer no poder se houver mecanismos eficazes de defesa da periodicidade das eleições – eles têm de admitir o risco de serem substituídos por opositores dispostos a levá-los às barras dos tribunais.

Com o sistema de combate à corrupção econômica se fortalecendo e a democracia resistindo, os corruptos no poder passam a ter de considerar seriamente a hipótese de serem, no futuro, condenados junto com os corruptores. Com isto, a Política evoluirá. É esperar para ver.